domingo, 11 de agosto de 2013

Life is simple in the moonlight

- Praia à meia-noite?
- Pois é, meu. É o horário que consigo me livrar da superproteção meus pais.
- Proteção paterna... hoje eu só queria almoçar, dormir e assistir sessão da tarde...

É sobre a adolescência. 
É sobre ter montanhas de perguntas e nenhuma resposta.
É sobre...
- Fecha os olhos.
- Assim? (e põe as duas mãos sobre o rosto dela)
- Os seus olhos, seu bobo!

Ela inclinou-se sobre mim como quem sabia o que estava fazendo.
Reagi da melhor maneira que conhecia - fiquei imóvel esperando ela fazer todo o resto.

Lembro de sentir uma combinação entre insegurança e satisfação juvenil.
Como todos os beijos aos 14 anos.
Outra coisa que lembro é de sentir o perfume dela.

 A vida ficou mais simples sob o luar daquela madrugada.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

quinta-feira, 18 de julho de 2013

terça-feira, 25 de junho de 2013

Socidade Anônima


Acordei com o tino empreendedor. Criarei uma empresa chamada “Dará Merda S.A.”.

- Contratação feita pelo RH?
- Marketing sugeriu "um nome inovador"?

Em poder de uma xicará de café, levanto-me e peço a palavra:
“Senhores, dará merda”

E sorvo um gole do líquido quente.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Um Aspirante a Jornalista no Pedaço


Junho de 2007. Guarani 0 X 0 América do José Trajano.

O Guarani tinha um centroavante careca e acima do peso chamado Gil. O Gil foi um dos piores centroavante que presenciei na vida, incluindo Valdir Bigode.

A terceira divisão do brasileiro é um lugar inóspito e o esvaziado Brinco de Ouro refletia uma década de gestões canibalizantes. 


Financeiramente fazia pouca diferença.  Um torcedor, que usamos como fonte no trabalho de graduação, explicou que todo o dinheiro arrecadado seria automaticamente confiscado para quitar dívidas trabalhistas com ex-jogadores - alguns tinham se desligado do Guarani há cinco, dez anos, e continuavam com salários a receber. Na entrada, um grupo de torcedores vendia DVDs para arrecadar receita extra para o clube. Claro que não solucionaria o problema, mas ficar parado nunca é uma opção nestes casos.
Tirei da carteira a única nota restante (de R$ 20) e comprei um exemplar. Os chineses vendedores de yakissoba da Avenida Paulista tinham acabado de perder vinte mangos.


Era quatro da tarde e o que mais me chamava a atenção na arquibancada era o garboso público feminino do Brinco de Ouro e os xingamentos locais (“Seu morrfético”, assim mesmo puxando no erre). Atrás de nós, um sósia de bigodes do glorioso Belchior repetia o edificante mantra: “FAZFILHADAPUTA!FAZFILHADAPUTA”.
Ninguém fez e o senhor saiu do jogo rouco.



O exercício da minha iniciante profissão era contagiante de uma maneira talvez só igualada por garotas bonitas e me sorrir.

Dali a alguns dias, eu ligaria para um ex-ídolo do Guarani e do meu time de coração cujo epiteto é Careca (ele tem mais cabelo que eu).

- Careca?

- Ele.

- Muito prazer. Conversamos há algumas semanas em um jogo amistoso de ex-atletas do Guarani. Sou estudante de jornalismo e, como te disse na ocasião, eu e dois amigos estamos escrevendo um livro sobre o clube. A boa notícia é que já entrevistamos alguns dos principais personagens do clube como o Zennon e Neto. Marcamos conversas com Evair, João Paulo e queria agendar uma com você também.

- Estudante de que mesmo?


- Jornalismo, estou escrevendo um livro para meu trabalho de graduação...

 (tu tu tu)

- ALÔ!

quinta-feira, 28 de março de 2013

Habibs


Quis o destino, esse  maledito, que ontem à noite eu percorresse metade da Barueri até encontrar um wifi em funcionamento que me permitisse terminar um frila.

A poucos metros de onde assentei, um casal de italianos procurava um local para jantar uma boa pizza.

Um fluente em italiano sugeriu 'o restaurante Habibs', o que interpretei como outro exemplo da periclitante fase do Palmeiras (que aquela altura já perdia do Mirassol).
E lembrei-me de alviverdes amigos, entre eles Kamarad, que não sei se está em Caieiras, Dudinka ou Vladivostok, mas atendeu quatro ou cinco ligações minhas num domingo de manhã na última vez que a internet e deadline acharam legal conflitar.

domingo, 3 de março de 2013

Tudo é música

"(...) - A vida é uma ópera e uma grande ópera. O tenor e o barítono lutam pelo soprano, em presença do baixo e dos comprimários, quando não são o soprano e o contralto que lutam pelo tenor, em presença do mesmo baixo e dos comprimários. Há coros numerosos, muitos bailados, e a orquestração é excelente...
- Mas, meu caro Marcolini...
- Quê?
E, depois de beber um gole de licor, pousou o cálix, e expôs-me a história da criação, com palavras que vou resumir.
Deus é o poeta. A música é Satanás, jovem maestro de muito futuro que aprendeu no conservatório do céu. Rival de Miguel, Rafael e Gabriel, não tolerava a procedência que eles tinham na distribuição dos prêmios. Pode ser também que a música em demasia doce e mística daqueles outros condiscípulos fosse aborrecível ao seu gênio essencialmente trágico. Tramou uma rebelião que foi descoberta a tempo, e ele expulso do conservatório. Tudo se teria passado sem mais nada, se Deus não houvesse escrito um libreto de ópera, do qual abrira mão, por entender que tal gênero de recreio era impróprio para sua eternidade. Satanás levou o manuscrito para o inferno. Com o fim de mostrar que valia mais que os outros -, e acaso para reconciliar-se com o céu -, compôs a partitura, e logo que a acabou foi levá-la ao Padre Eterno.
'-Senhor, não desaprendi as lições recebidas - disse-lhe - Aqui tendes a partitura, escutai-a, emendai-a, fazei-a executar, e se achardes digna das altitudes, admiti-me com ela e vossos pés...
'-Não - retorquiu o Senhor -, não quero ouviro nada.
'-Mas, Senhor...
'-Nada! Nada!'
Satanás suplicou ainda , sem melhor furtuna, até que Deus, cansado e cheio de misericórdia, consentiu que a ópera fosse executada, mas fora do céu. Criou um teatro especial, este planeta, e inventou uma companhia inteira, com todas as partes, primárias e comprimárias, coros e bailarinos.
'-Ouvi agora alguns ensaios!
'-Não, não quero saber de ensaios. Basta-me haver composto o libreto; estou pronto a dividir contigo os direitos de autor.'
Foi talvez um mal esta recusa; dela resultaram alguns desconcertos que a audiência prévia e a colaboração amiga teriam evitado. Com efeito, há lugares em que o  verso vai para a direita e a música para a esquerda. Não falta quem diga que nisso mesmo está a beleza da composição, fugindo à monotonia, e assim explicam o terceto do Éden, a ária de Abel, os coros da guilhotina e da escravidão. Não é raro que mesmo lances se reproduzam, sem razão suficiente. Certos motivos cansam à força da repetição. Também há obscuridades; o maestro abusa das massas corais, encobrindo muita vez o sentido por um modo confuso. As partes orquestrais aliás retratadas com grande perícia. Tal é a opinião dos imparciais"

(Machado de Assis em Dom Casmurro)
Esse cara é um gênio.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

No Rio, trabalhando

Chegamos no Leme com a mochila nas costas na segunda-feira. No domingo à noite, com quase trinta jogos de futebol gravados na retina, fechei meu computador, recolhi as tralhas e ouvindo o chiar da praia a poucos metros desejei como nunca a calma e a paz dos lençois da minha cama.

Há uma preocupante controvérsia em ambicionar o trânsito paulistano enquanto se está sob solo carioca.


Os cariocas sempre foram legais comigo, inclusive costumam achar que sou de uns lugares bacanas tipo Itália, Bahia e Dudinka - a cidade do War, isso.

Um breve parenteses pois acabo de lembrar que pela primeira vez um bronzeado vermelho-pimentão adquirido nalgum dia de trabalho revelou minha naturalidade paulista: -Ei, paulixta, não sabe tomar sol não, mermão. Fecha parenteses.

Chuto: uma grande diferença entre nós vizinhos de estado é o modo de reagir aos problemas. Porque enquanto os paulistas discorrem no feicibuqui sobre a falta de amor em São Paulo, o carioca toma um gole de seu chá mate existencial e... "mermão, bora pegar uma praia?".


***

- Me hospedaram num hotel cuja diária praticamente equivale às minhas contas mensais. Tinha cafê da manhã à disposição, wi-fi gratuito e outras comodidades. O fato de ainda assim lembrar saudosamente de quando ficava em hosteis diz mais sobre mim do que sobre o hotel careiro.

- Conheci o Copacabana Palace, o histórico hotel carioca. É onde moram Narcisa Tamboridegui, do 'ai, que loucura', e Bruno Chatobriã. Imagine uma reunião condominial.

- Sobre a polêmica coluna de Antônio Prata: não fui atendido por garçons mau-educados. Segue o roteiro da viagem: Bracarense, no Leblon (José Linhares, 85), Belmonte, em Copacabana  (Domingos Ferreira, 242) e o buteco na rua do hotel com a melhor relação custo-benefício para pastel-garapa-açaí.

- Teresópolis em um tuíte: fuja.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Lista de Afazeres

Naquela altura, Johnny Cash tinha sido apresentado a todas as formas de rejeição pela também cantora June Carter.

O consumo excessivo de bebidas alcoolicas, o uso em igual medida de tranquilizantes e anfetaminas e a inaptidão para a fidelidade - vícios que marcaram a carreira do astro - eram os motivos relatados por June ao rejeitar os insistentes pedidos de casamento do músico.

Até que ele decidiu fazer a coisa certa. Por um breve período conseguiu controlar a predisposição para a autodestruição e, um a um, derrubou os obstáculos que ela havia imposto à união.

Durante um show da dupla, em 1969, jurou que não voltaria a cantar até que June enfim aceitasse seu pedido de casamento.

Pôde terminar a música. E os dois permaneceram juntos até ela falecer, em 2003. Deprimido, ele teria o mesmo destino quatro meses depois.

Tem algo de muito humano nessa dúzia de frases que fazem parte da lista de afazeres de Johnny Cash.


Ps. Para quem se interessou, o Letters of Note publicou duas cartas endereçadas por ele a June Carter.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Lancem suas apostas

Na última vez, acertei quatro palpites. Vamos ver quantos eu cravo este ano.

Champions League

Milan X Barcelona

Em 1994, o Milan de Maldini, Boban e Savicevic goleou o favorito Barcelona, conquistando sua quinta taça da Champions. Em 2012, o Milan de Mexés, Yepes e Ambrosini não tem a menor chance de repetir a façanha. Os catalães confirmam a ótima campanha e avançam para a próxima fase.

Málaga X Porto

Aposto minhas fichas no Porto e na dupla de ataque formada por James Rodriguez e Jackson Martínez, dois dos melhores nomes da história dos nomes de boleiro. 

Bayern X Arsenal

A vida é como um grande elenco do Arsenal: têm os jogadores históricos, as estrelas que somem sem motivo e os reservas que vêm e vão. O duro é quando o treinador resolve apostar no Gervinho. O Bayern leva com empate no Emirates e vitória na Alianz Arena.

PSG X Valencia

No duelo do segundo escalão da Europa, os franceses passam pelos espanhóis com a ajuda do sueco Ibrahimovic e voltam para a fase de quartas pela primeira vez desde 95 - e por lá ficarão, ja que nos jogos posteriores Ibrahimovic fará o que costumeiramente faz, ou seja, nada.

Celtic X Juventus

Italianos e escoceses partilham a disposição para o jogo brusco nesse duelo de iguais. A Juve avança para as quartas após golear o adversário por 1 a 0 em Turim e em Glasgow.

Borussia X Shakhtar

O Shakhtar atravessa boa fase na temporada. O Shakhtar conta com Fernandinho, Willian e Mkhitaryan jogando o fino da bola.  O Shakhtar tem um presidente que sonha em fazer boa figura na competição. Mas, como certa vez disse um atacante inglês, o futebol é um jogo simples em que 22 homens correm atrás da bola durante 90 minutos. E no final os alemães vencem. O Borussia de Mario Götze e Marco Reus sobrevive.

Schalke 04 X Galatasaray

 A zebra pede passagem. Contando com os gols dos atacantes Didier Drogba e Burak Yilmaz, a técnica de Wesley Snyder e com o entusiasmo de sua apaixonada torcida, o Galatasaray surpreende o adversário de Gelsenkirchen e permanece na competição.

Manchester United X Real Madrid

Na disputa mais estrelada desta fase, Alex Ferguson leva a melhor sobre José Mourinho. Kaká entra com dez minutos para o fim no lugar de Casemiro, com a derrota já definida. E Cristiano Ronaldo tem atuação abaixo da média, saindo do confronto ainda mais prestigiado entre os torcedores ingleses.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Mulder

Há uns três meses, estou ensaiando atualizar o blogui com um conto mezzo ficcional, mezzo factual que se passa numa festa estranha com gente esquisita na Vila Madalena.

O saldo até aqui: de pouco a nenhum sucesso.

Dá para explicar didaticamente meu grande dilema em termos de estilo de vida usando a carreira de David Duchoviny.

Tenho esse ideal de ser um Hank Moody, o personagem de Californication, dos pobres, vivendo aos tropeços entre bares e hostels repletos de mulheres independentes, loucos e extravagantes - e abusando do recurso de buscar material em minha própria vida para contar as histórias que escrevo ébrio.

O que eu encaro no dia-a-dia, porém, pode ser resumido em problemas que passo metade do tempo sem saber como enfrentar e uma garota com ares esnobe que faz parte do imaginário masculino, mas eu olho de vez em quando e penso "nhé, normalzinha".
Tipo o Mulder, de Arquivo X.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Seminarista (Ou homenagem a Leila Lopes)

- Aê, moleque, chega mais que tô pra te pedi uma parada.
- Qualé, Cabelera? Tô atrasado para um compromisso e não quero encrenca.
- Ô o cara, vei. Tá cheio de frescurinha, tá pensando que é quem? O lance é o seguinte: meu parça, o Bujão, aqui do meu lado disse que tu faz o tipinho de escritor e tal. Quero vê se tu tem a manha, sacumé. Bola uma frase de efeito. E tem que ser coisa da boa, morou!
- Não sei se entendi.
- Tu é surdo, mané. Frase de efeito. Que nem o robozão do Exterminador do Futuro, tá ligado:  Astalavista, I will be back e umas paradas assim.
- Como eu te disse, Cabelera, estou atrasado.
-  Tu é destro ou canhoto? Quer saber, deixa para lá. Nóis quebra as duas mãos, só para garantir.
- “Sou seminarista”.
- Cuméquié? Que papo é esse. Quer que eu perca a paciência contigo, mermão? Tá me testando?

- [Respira fundo e senta] "Vamos lá. Balada rolando solta e a loirinha do rebolado matador esnoba a atenção de todos os homens para conversar com o amigo (e o único sujeito alheio àquele corpinho de deusa) num ponto isolado do bar.

- Cerveja, padre?
- Pri, porque sempre faz essa pergunta se eu não bebo? Achei que uma hora você cansaria da brincadeira.
- Não, ela é sempre engraçada, como da primeira vez.


- Quer saber, no fundo, padre, você sabe o que realmente me cansa.
- [desvia o olhar] Isso é uma Brahma, Pri? Você quer que eu abandone os meus principios por uma Brahma?

[bombadinho, que deve se chamar Jake, chega na truculência perguntando se "a mina" não tá afim de conhecer um homem de verdade]
- Quer saber, padreco, você fica fugindo que nem um covarde. Que Brahma, cara! A loira que tá sendo oferecida para você é quente e saborosa. E não finge que não tava olhando para minhas pernas agora. [olha pro mano da camisetinha regatinha] Aê, o do hormônio para cavalo. Tu tem pegada? Porque quero um homem que me pegue de jeito e é para agora!

Ele não tinha. Mas ela estava no limite da paciência, de maneira que foi com aquele sujeito mesmo. Sabe como é, se não tem tu, vai tu mesmo.
Se pegaram. Ela se mostrando para o amigo. A mensagem corporal era tu perdeu, cara. Perdeu e perdeu feio. Aí o bombadinho se enroscou todo  e, meio sem querer, puxou o vestido dela para cima até a calcinha, sabe? Ela lançou um olhar pro amigo de se fode aí e esse foi o limite dele.

[Puxa ela pelo braço esquerdo e lança um olhar penetrante] - Agora… Agora, você me ouve!
- Ouvir o quê? Essas tuas desculpinhas não colam comigo, padre.
- Padre é o caralho. Sou seminarista. Vem ver a diferença.
E os dois seguiram para o banheiro unissex do bar".