sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Emanuelle, um tributo




Essa é da era mezozóica da internet.

Na época só havia duas opções para garotos de 15 anos buscando conhecimento teórico do mundo adulto: o Domingo Legal, do SBT, e o Cinê Privê, da Band.

Às madrugadas de domingo, enquanto outras emissoras encerravam suas programações e pais já dormiam, milhares de adolescentes assistiam à épica cruzada de Emmanuelle, nossa heroína, contra o reacionarismo sexual.

Emmanuelle foi tão bem aceita que ganhou continuações suficientes para preencher a grade da madrugada da Band.

Emmanuelle 2 tem uma cena que nunca esqueço.

A história acontecia dentro de um transatlântico. Após conhecer inúmeras pessoas, Emmanuelle prontamente fazia borbulhas de amor com todas, excetuando seu próprio marido.

Numa ocasião, um engomadinho salivando babaquice a arrastava para uma das cabines do transatlântico. Os dois rompem antes de chegar aos finalmentes e cada um segue seu rumo na vida.

O dela é a sala de máquinas, no subsolo do transatlântico. Lá, escolhe o mais braçal dos trabalhadores - o cara tinha minha altura só de ombro - e decide satisfazê-lo após dura jornada de trabalho.

Foi um baque para este moleque de classe média, acostumado ao mundo dos condomínios de luxo habitados por amigos e à política de exaltação de riquezas.

De uma fonte altamente improvável surgiu uma lição sobre a vida: nem sempre o sucesso e o dinheiro estão intimamente ligados, uma verdade que acreditava ser absoluta.

Também não estou dizendo que se trata de uma mentira absoluta. Bem longe disso.

O fato é que, como Emmanuelle ensinou-me: entre as chegadas e partidas do transatlântico, tal qual um bêbado perambulando entre sarjetas, a vida pode não estar com a memória em dia para se lembrar do que costuma professar.