JANTAR
Bejota estava disposto a cumprir sua promessa.
Ele sabia que não fora um companheiro digno nesses anos todos, mas decidiu que, enfim, mudaria naquela quinta-feira ensolarada.
Tinha uma boa garota ao seu lado, e sabia que muitos dariam um ou dois dedos por uma pessoa que cozinhasse tão bem quanto sua Carola.
É claro que sua aparência também o agradava e, além do mais, ela nunca o acusara de ser pão duro.
A rigor, jamais a presenteara. Esforçou-se para organizar um jantar há uns anos. Tudo para dar uma bijuteria qualquer, nada que se comparasse ao par de brincos que carregava no bolso.
Diabos, pensou, se as coisas acontecessem como planejava, pretendia até gastar alguns minutos satisfazendo-a lá embaixo.
***
Foi só sair do carro para o tempo virar. A fortíssima chuva molhou seu terno e bagunçou seu cabelo.
Mesmo com o temporal, avistou um bilhete colorido colado as pressas na porta de sua casa.
Leu por cima a mensagem que dizia que ela iria deixá-lo para morar com um Teddy. Teddy. É óbvio que tratava-se do tipo de sujeito que fingia gostar de Kenny G para atrair garotas.
Correu direto para a cozinha ainda ensopado pela chuva e avistou o agravante.
Ou melhor, não avistou nada.
Na geladeira não havia nada além de legumes, folhas e duas peças de carne.
Ele estava só. E ela não teve a decência de preparar o jantar. Bejota achou que faltou consideração.
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